O Que os Estudos Mostram?
A saúde mental de pessoas LGBTQIAPN+ pode ser bastante impactada. Estudos recentes mostram que essa população apresenta maiores índices de depressão, ansiedade, uso de substâncias e ideação suicida quando comparada à população cis heterossexual. Mas por quê? Será que uma pessoa LGBTQIAPN+ é mais suscetível a tudo isso por causa da orientação sexual / identidade de gênero em si? Ou existem outros fatores que explicam esse fenômeno?
Uma revisão sistemática avaliou 199 estudos e apontou que o chamado estresse de minorias é um dos principais fatores associados a esses quadros. Estresse de minorias é um conceito que diz respeito à discriminação, rejeição e medo da violência por parte de terceiros – algo muito comum entre a população LGBTQIAPN+, e que pode ser ainda mais delicado dependendo da letrinha. Pessoas bissexuais, por exemplo, foram identificadas como particularmente vulneráveis, tanto por preconceito externo quanto por apagamento dentro da própria comunidade.
Outro levantamento, voltado a jovens LGBTQIAPN+, mostrou que essa fase da vida é especialmente sensível. A falta de apoio familiar e escolar amplia os riscos de sofrimento psíquico. Em paralelo, porém, uma meta-análise revelou que o desenvolvimento da autocompaixão – ou seja, tratar-se com gentileza e compreensão – pode funcionar como fator protetor importante contra ansiedade e depressão.
Também há avanços no campo das intervenções: revisões indicam que abordagens que enfrentam o estigma diretamente, com estratégias afirmativas e culturalmente competentes, são mais eficazes para cuidar da saúde mental dessa população.
A ciência mostra que os desafios são reais – mas também aponta caminhos possíveis. Criar espaços de acolhimento, promover educação afetivo-sexual e fomentar políticas públicas inclusivas são passos essenciais para transformar esse cenário.
E Nem Falo só da População LGBTQIAPN+...
Isso também pode ser verdadeiro para pessoas das comunidades fetichistas e BDSM. Estudos recentes indicam que, embora o BDSM e o fetichismo ainda enfrentem estigmatização, não há evidências que associem tais práticas a transtornos mentais. Pelo contrário, pesquisas sugerem que praticantes de BDSM podem apresentar níveis de saúde mental comparáveis ou até superiores à média da população.
Por exemplo, uma revisão sistemática abordou os aspectos biopsicossociais do BDSM, destacando que fatores como abertura à experiência e busca por sensações estão associados a essas práticas, sem indicar patologias inerentes. Além disso, estudos apontam que o BDSM pode ser uma expressão saudável de intimidade, com benefícios psicológicos para os envolvidos.
No entanto, é fundamental reconhecer que o estigma social ainda persiste, podendo impactar negativamente a saúde mental dessas populações. Assim, é essencial promover a educação e a conscientização para reduzir preconceitos e apoiar a saúde mental de todas as comunidades e minorias sexuais e afetivas.
Ainda temos poucos estudos com as comunidades fetichista e BDSM, mas podemos mudar isso através de pesquisas diretas com essa população, com atenção às suas vivências específicas. O Centro de Referência Cetim tem encabeçado essa iniciativa e logo poderemos ter mais acesso aos dados coletados e a formas eficazes de acolher pessoas desses contextos.
O Que Eu Posso Fazer?
Caso você conheça e ame uma pessoa que está se entendendo como parte de uma minoria sexual e / ou afetiva, ofereça apoio e acolhimento, pois esse pode ser um momento delicado e o mundo já é assustador demais quando temos pessoas ao nosso lado, imagine quando nos sentimos sós?
Se você for uma pessoa se entendendo como parte de uma minoria, saiba que você não está só e ser quem você é não é errado. Se mesmo tendo isso em mente você ainda sentir que precisa conversar, pense em falar com alguém de confiança sobre o que está sentindo – ter uma rede de apoio é muito importante nesse momento. Mas, se não sentir que tem abertura com alguém de confiança, não há nada de errado em procurar por um acolhimento profissional. Isso pode te ajudar muito a se conhecer melhor e ter uma vivência mais plena da sua sexualidade. Afinal, você também merece se sentir em plenitude na própria pele!
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
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