Essa é uma das perguntas que mais recebo no meu consultório! Então, vamos lá.
Quando falamos de sexualidade, é importante entender alguns termos fundamentais que ajudam a esclarecer a diversidade de desejos e comportamentos. Entre os conceitos mais frequentemente confundidos estão a preferência sexual, a parafilia e o transtorno parafílico. Vamos explorar cada um desses conceitos?
Preferência Sexual
A preferência sexual refere-se à inclinação que uma pessoa tem por tipos específicos de práticas ou atividades durante o ato sexual ou ao se tocar. Ela pode incluir, por exemplo, a escolha entre práticas com ou sem penetração, ou um interesse particular por alguns fetiches. A preferência sexual faz parte da diversidade da sexualidade humana e, em geral, não causa sofrimento ou prejuízo à pessoa ou aos outros.
No caso do que conhecemos como fetiche, ele pode estar presente de vez em quando nas relações da pessoa, mas ela consegue obter satisfação sexual mesmo sem aquele componente.
IMPORTANTE: a inclinação por determinado gênero (ser gay, bissexual, pansexual etc.) NÃO É uma preferência! É uma orientação sexual e é muito importante fazermos essa distinção.
Parafilia
A parafilia é um termo mais técnico, usado para descrever um interesse sexual que foge do que é considerado normativo em uma determinada cultura. Ela pode incluir fantasias, desejos ou comportamentos que fogem do comum, como interesse sexual por determinados objetos ou materiais, ou práticas consideradas não convencionais.
Diferente da preferência, no caso da parafilia, o indivíduo pode não obter tanta satisfação sexual sem o componente que desperta do desejo. Exemplo: um homem que não se sente totalmente satisfeito sexualmente se a parceria não usar um salto alto.
Outra característica importante da parafilia é que, embora ela possa ser atípica, não causa sofrimento ou problemas na vida da pessoa ou pessoas ao seu redor. Um exemplo disso pode ser o interesse em práticas BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo), que é uma forma consensual de exploração da sexualidade e não é sinal de uma patologia.
IMPORTANTE II: atualmente, há uma discussão sobre considerar o BDSM e o fetiche orientações sexuais ou identidades sexuais, mas isso não é um consenso. Em alguns países, como nos Estados Unidos e em algumas partes da Europa, já existe uma proposta para incluir a letra K de Kinky ("fetichista" em tradução livre) dentro da sigla LGBT+.
Transtorno Parafílico
Por outro lado, um transtorno parafílico ocorre quando uma parafilia causa sofrimento significativo ou compromete a vida da pessoa e / ou de outros. As principais diferenças entre uma parafilia e um transtorno parafílico estão no impacto e na consensualidade. Se um desejo ou comportamento sexual atípico gera sofrimento pessoal, afeta negativamente o dia a dia, os relacionamentos, ou envolve a participação de pessoas que não consentem, ele pode ser classificado como um transtorno. Exemplos de transtornos parafílicos incluem o transtorno exibicionista (exposição dos órgãos genitais sem o consentimento de outros) e o transtorno voyeurista (observar outras pessoas em atos íntimos sem seu consentimento).
A pedofilia também entra como um transtorno parafílico quando colocada em prática, já que crianças e pré-adolescentes não têm condições de consentir uma relação sexual com uma pessoa adulta ou muito mais velha do que ela.
Conclusão
Enquanto a preferência sexual e a parafilia podem fazer parte de uma sexualidade saudável e consensual, o transtorno parafílico envolve sofrimento e, muitas vezes, falta de consentimento. Se você tem dúvidas sobre sua sexualidade ou sente que seus desejos estão causando desconforto, é importante buscar a orientação de um profissional qualificado para explorar essas questões de forma segura e respeitosa.