A depressão é um transtorno que afeta diversos aspectos da vida de uma pessoa, incluindo sua relação com a própria sexualidade. Muitas vezes, a função sexual é comprometida em indivíduos com depressão, resultando em uma redução significativa da libido, dificuldades de excitação e problemas relacionados ao orgasmo. Da mesma forma, uma disfunção ou um transtorno sexual também pode afetar negativamente a nossa saúde mental e emocional. Mas como isso acontece? E, mais importante, o que pode ser feito para minimizar esses impactos?
A Relação Entre Depressão e Função Sexual
Um estudo publicado na Brazilian Journal of Psychiatry realizou uma revisão sistemática sobre a relação entre depressão e disfunção sexual. Os resultados foram alarmantes:
Entre 31% e 32% dos pacientes relataram redução do desejo sexual;
De 31% a 87% experimentaram uma diminuição no impulso sexual;
Entre 29% e 85% tiveram dificuldades para manter a excitação;
Homens cis apresentaram taxas de disfunção erétil entre 18% e 46%;
Mulheres cis relataram dificuldades de lubrificação entre 18% e 79%;
Problemas com o orgasmo foram identificados em 26% a 81% dos participantes.
Os dados mostram que a disfunção sexual é uma realidade comum para muitas pessoas com depressão. Isso ocorre porque a depressão está associada a alterações nos neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que são fundamentais para a resposta sexual. Além disso, fatores psicológicos como baixa autoestima, desesperança e preocupações excessivas podem intensificar essas dificuldades.
A Terapia Cognitivo-Comportamental e Como Alternativa de Tratamento
Diante desse cenário, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) se destaca como uma abordagem eficaz no tratamento da depressão e de suas consequências na sexualidade. Uma revisão integrativa publicada na PePSIC investigou a eficácia da TCC no tratamento da depressão e apontou que a abordagem pode auxiliar o paciente a reestruturar padrões de pensamento negativos e comportamentos disfuncionais, promovendo uma melhora significativa na qualidade de vida.
A TCC é baseada na ideia de que nossos pensamentos influenciam nossas emoções e comportamentos. No contexto da disfunção sexual associada à depressão, essa terapia pode ajudar o paciente a:
Identificar e modificar crenças negativas sobre si mesmo e sobre sua sexualidade;
Reduzir a ansiedade relacionada ao desempenho sexual;
Melhorar a autoestima e a percepção do prazer;
Desenvolver estratégias para lidar com o estresse e com preocupações excessivas.
O estudo reforça que a participação ativa do paciente na terapia é essencial para que ele consiga desenvolver novas formas de lidar com sua condição emocional, trazendo impactos positivos para sua saúde sexual.
Algo que não é comentado nesse estudo, mas acho que vale colocar no presente texto é que, além da TCC, a Terapia Cognitiva-Sexual (TCS) também tem mostrado eficácia nos tratamentos de disfunções e transtornos sexuais, pois incorpora os conceitos já bem estabelecidos da TCC no contexto da sexualidade, mas com um olhar biopsicossocial muito rico, oferecendo mais uma opção valiosa de tratamento para essas questões.
Conclusão
A relação entre depressão e função sexual é complexa, mas a boa notícia é que existem caminhos para minimizar esses efeitos. A terapia psicológica (especialmente a TCC e a TCS) pode ser uma grande aliada na reconstrução da autoestima, do desejo e do prazer sexual.
Se você ou alguém que conhece enfrenta dificuldades emocionais que impactam a sexualidade (ou o contrário!), buscar um profissional da área pode ser o primeiro passo para recuperar o bem-estar e a plenitude na vida afetiva e sexual.
Bibliografia:
Função e Disfunção Sexual na Depressão: Uma Revisão Sistemática - 2019
Eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental no Tratamento da Depressão: Revisão Integrativa - 2019